Os recentes pedidos de concordata de empresas tradicionais como GM e Chrysler trazem à tona um elemento extremamente importante na gestão das empresas, principalmente em tempos de crise econômica: a busca e a preservação do equilíbrio financeiro.
Do ponto de vista da análise financeira tradicional, existe equilíbrio financeiro quando o capital circulante líquido (CCL) de uma empresa é positivo. Um CCL positivo mostra que o montante de investimentos de curto prazo (caixa, clientes, estoques etc) é superior ao de dívidas e obrigações também de curto prazo (fornecedores, empréstimos bancários, salários a pagar etc). Mais precisamente, ele revela que os ativos circulantes são maiores que os passivos circulantes. Dito de outra forma, um CCL positivo é sinal de equilíbrio financeiro na medida em que representa o excedente de recursos de longo prazo (dívidas e capitais próprios) que é aplicado em investimentos de curto prazo. Assim, um CCL positivo revela a existência de capacidade de solvência no curto prazo, bem como a adequação no conjunto das decisões estratégicas da empresa, visto que seus investimentos de longo prazo estariam sendo financiados por recursos igualmente de longo prazo. A grande limitação dessa perspectiva de análise reside essencialmente no fato de um CCL positivo não significar necessariamente existência de liquidez. Na realidade, o excedente de recursos de longo prazo destinado ao curto prazo, origem da provável folga financeira, pode estar aplicado em bens e direitos de elevada dificuldade de conversão em caixa. São exemplos os capitais empatados em estoques com baixo giro e clientes inadimplentes, eventos comuns no atual contexto econômico. Essas limitações da abordagem tradicional, que é estática, podem ser mitigadas pelo emprego de uma perspectiva de análise que avalia o equilíbrio financeiro de uma empresa e sua condição de liquidez por meio da relação estabelecida entre investimentos e financiamentos de curto prazo e o ciclo operacional.
Dessa forma, a chamada análise financeira dinâmica calcula três variáveis que caracterizam diferentes níveis da gestão empresarial. A primeira delas é a necessidade de capital de giro (NCG). Esta é obtida por meio da diferença entre investimentos e financiamentos estritamente operacionais. Quando positiva, que é o mais comum, revela uma demanda de recursos para financiar o giro dos negócios. Por outro lado, uma NCG negativa mostra que a empresa possui um excedente de passivos operacionais (fornecedores e obrigações sociais, por exemplo), o que representa uma fonte para outras aplicações. Em essência, a NCG revela o perfil da gestão operacional da empresa. A segunda variável é o capital de giro (CDG). Este é obtido pela diferença entre as fontes e as aplicações de longo prazo. Além do equilíbro nas decisões de longo prazo, um CDG positivo revela a existência de recursos para o financiamento da NCG. Por sua vez, um CDG negativo mostra que a empresa utiliza recursos de curto prazo para financiar investimentos de longo prazo. Tal decisão conduz a empresa a um perfil de liquidez péssimo, caracterizado por um desequilíbrio financeiro. Em essência, a variável CDG revela a capacidade de gestão estratégica (de longo prazo) da empresa. Quanto à terceira variável, esta corresponde ao saldo de tesouraria (T), que expressa a liquidez da empresa. É obtido por meio da diferença entre investimentos e financiamentos de natureza financeira. Mais precisamente, trata-se da variável associada ao fluxo de caixa. Assim, um saldo de tesouraria positivo revela a existência de liquidez. Caso seja negativo, mostra a utilização de passivos financeiros (dívidas de curto prazo) para financiar aplicações de curto e, até mesmo, de longo prazos. Neste último caso quando o CDG também é negativo. O saldo de tesouraria é, de fato, o resultado da capacidade da empresa em gerir seu ciclo operacional e suas estratégias. Ou ainda: T = CDG - NCG.
Isto posto, pode-se dizer que a busca do equilíbrio financeiro passa, necessariamente, por uma gestão judiciosa de curto e longo prazos, o que envolve as variáveis NCG e CDG, sendo o saldo de tesouraria uma consequência da qualidade do trabalho realizado nesses dois níveis de gestão. Um perfil financeiro sólido, por exemplo, pode ser alcançado quando a empresa possui NCG>0 (demanda de recursos), CDG>0 e maior que a NCG (fonte de recursos) e T>0 (aplicação de recursos, recebendo o excedente de CDG em relação à NCG). Perseguir e assegurar o equilíbrio financeiro pode, portanto, ser considerado como um dos principais objetivos da gestão financeira no cotidiano das empresas, a fim de evitar os constrangimentos de um pedido de concordata.
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