domingo, 6 de dezembro de 2009

A subjetividade na educação e na empresa

O mundo tem vivenciado uma migração, em todas as esferas relacionais, dos modelos autocráticos, radicais e objetivos para formatos democráticos, liberais e subjetivos. Será que esta sistemática cada vez mais individualista é a solução para os nossos problemas educacionais e administrativos?

Antigamente, tínhamos um sistema de ensino e um modelo organizacional mais verticalizado, autocrático e a prioridade eram as relações coletivas e não as individuais. Isso engessava os modelos educativos e gerenciais, mas ao mesmo tempo protegia e tranqüilizava os componentes desse domínio, já que tudo se baseava em critérios padronizados e uniformizados. A atuação do professor era muito mais simples, pois só lhe restava "transmitir" de forma unilateral os conteúdos obrigatórios aos alunos. Estes só precisariam "decorar" os conteúdos como "verdade absoluta" e passar nas provas para ter seus empregos garantidos pelo diploma no futuro; aos empregados de uma empresa só cabia receber e cumprir ordens da administração sem qualquer abertura para questionamentos e debates sobre os melhores remédios para os problemas empresariais.

A partir dos últimos trinta anos, esse modelo começou a se modificar e assumiu um formato horizontalizado e democrático, com prioridade para as relações individuais, em detrimento das relações coletivas, iniciando uma supervalorização da subjetividade e do autogoverno dos indivíduos. Nos dias de hoje, os professores são mais exigidos a "compartilhar" conteúdos e experiências com os estudantes, pois a internet permite que estes consigam até mais informações do que a escola oferece. Neste estágio, não existe uma "verdade absoluta", já que a multiplicidade de visões e ângulos sobre um mesmo tema é nítida. Os professores se deparam com classes bastante heterogêneas e com graus de conhecimentos bem distintos; nas organizações foi dada total abertura ao debate e às discussões para resolução de problemas envolvendo todos os funcionários, mas os administradores sentem cada vez mais dificuldades de tomar decisões. Sempre tem alguém discordando das soluções por eles apresentadas.

Individualmente as pessoas estão mais livres para fazer o que querem, porém essa "liberdade" perdeu a eficácia. Não nos mostramos preparados para o que Foucault chamou de "mito da autodisciplina e autogoverno". Muitas empresas têm se deparado com resultados pífios, pois nem todo mundo sabe trabalhar sem chefe, sem comando e, no fim das contas, alguém tem de tomar a decisão e assumir responsabilidade na solução de problemas. Como retrata o dito popular "o que é público, não é de ninguém".

Este é um dos grandes problemas desta nação. Todo mundo quer palpitar, mas quase ninguém quer assumir responsabilidades.

No contexto professor-aluno, o manejo da subjetividade se torna um desafio. Hoje as informações estão prontas, o educador perde instrumentos de autoridade e uma postura muito radical pode prejudicá-lo. No sistema em vigor, os alunos estão muito mais sensíveis e assumindo um comportamento de "cliente que paga por um serviço". Isto de fato é uma realidade e tem seu lado positivo. O problema é que muitos levam a situação ao extremo, abusando da sua posição de consumidor. Esperam total compreensão de suas falhas, mesmo que isso signifique penalizar o desempenho de toda uma classe.

Enfim, uma flexibilidade exagerada não é exatamente o caminho que devemos tomar. Entretanto, uma atitude muito rígida e inflexível compromete os avanços necessários às organizações. Fica a lição de que o eixo "afetividade versus autoridade" é inseparável, sendo preciso equilibrar bem essas duas dimensões para obter resultados efetivos nas atividades que envolvam o relacionamento humano.

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