Há inúmeras variáveis, que podem caracterizar as culturas nacionais e que tendem a prevalecer nas organizações brasileiras:
1. A distância hierárquica: significando até que ponto os membros de uma sociedade aceitam a distribuição desigual de poder, afetando o comportamento dos menos poderosos em relação aos mais poderosos;
2. Individualismo: representando preferência por uma estrutura social frouxa, em que cada indivíduo cuida apenas de si mesmo e de sua família. Coletivismo significando preferência por comportamento social de solidariedade, em que cada indivíduo espera que seus parentes ou grupo a que pertença cuidem dele, em troca de lealdade. O ponto básico é qual o grau de interdependência que a sociedade mantém entre seus membros;
3. Masculinidade: expressando a preferência por sucesso material, competitividade, agressividade, desempenho e, feminilidade a preferência por qualidade de vida, relações humanas, dedicação, solidariedade;
4. Fuga à Insegurança: grau de desconforto que os membros de uma empresa sentem com a incerteza e a ambigüidade; preferência por situações mais ou menos estruturadas;
5. Orientação em longo prazo: correspondendo aos valores positivos de austeridade e tenacidade e aos valores negativos de respeito pelas tradições e conformismo social - o medo do que “os outros dirão.
6. Interesse maior por meios versus Interesse maior por fins: que significa, no primeiro caso preferência por rotinas técnicas e burocráticas, versus preferência por resultados.
7. Falta de interesse pelo indivíduo: pela função que significa preocupação com a produtividade, preocupação somente com a produtividade.
8. Corporativismo versus Espírito de equipe: no primeiro caso as pessoas identificam-se com a própria profissão, no segundo caso a referência principal é a organização.
9. Sistemas abertos versus Sistemas fechados: parâmetro ligado ao tipo de comunicação externa e interna e à facilidade de aceitar os estranhos ou recém-chegados;
10. Controle interno rígido versus Controle interno flexível: corresponde à importância atribuída à formalização e à pontualidade dentro da empresa;
11. Pragmatismo ou Rigidez nas relações: principalmente no que diz aos clientes; corresponde ao máximo de flexibilidade no setor de serviços e grande rigidez na aplicação das leis.
Esses subsistemas apresentam interseções entre si, encontrando-se nessas interseções traços culturais comuns. Essas interseções são:
• concentração de poder: na interseção dos subsistemas líderes e formal.
• postura do espectador: na interseção dos subsistemas liderados e formal.
• personalismo: na interseção dos subsistemas líderes e pessoal.
• evitar conflito: na interseção dos subsistemas liderados e pessoal.
Esses subsistemas, também, estão articulados por meio de traços culturais especiais que são responsáveis pelo equilíbrio e manutenção do sistema cultural e, ao mesmo tempo, são também os pontos que deveriam ser alterados para tornar possível uma significativa mudança cultural:
• o paternalismo;
• a lealdade a pessoas;
• o formalismo e;
• a flexibilidade.
12. A combinação destes dois conjuntos: compõe a estrutura do modelo representativo do sistema de ação cultural brasileiro, que apresenta no seu epicentro o traço da impunidade na maioria das organizações familiares principalmente.
13. Concentração de poder: baseada numa estrutura fortemente hierarquizada e de submissão onde o lema “manda quem pode, obedece quem tem juízo” reflete o fundamento deste traço identificador deste contexto e a expressão “você sabe com quem está falando” que revela todo o autoritarismo do cidadão que a profere, que se julga com direitos especiais e não sujeito a uma lei de caráter geral, no seu entendimento válida apenas para o cidadão com um.
14. Personalismo: no Brasil, o termo “cidadão” tem conotação negativa, pois, freqüentemente é usado para identificar alguém que está em posição desvantajosa ou de inferioridade; quando se diz “o cidadão vai ter que esperar um pouco”, “o cidadão não tem todos os documentos em ordem” podemos esperar por maus momentos, na nossa cultura o “cidadão”, quem quer que seja não é visto como centro de poder ou de direitos. A rede de amigos, de parentes, de propina é o caminho pelo qual trafegam as pessoas para resolver seus problemas. Este é o “cidadão brasileiro” que se diferencia pela hierarquia e pelas relações pessoais; eis o personalismo.
15. Paternalismo: segundo os autores do modelo em estudo, a combinação da concentração do poder com o personalismo gera o paternalismo em suas duas vertentes: o patriarcalismo e o patrimonialismo.O patriarca é aquele que tudo pode e, a quem, os membros do clã pedem e obedecem. O patrimonialismo consiste em dar aos bens públicos uso pessoal e familiar, é a face supridora e afetiva do patriarca, à custa do tesouro público.
São traços culturais típicos da postura do espectador: o mutismo, a baixa consciência crítica, baixa iniciativa, baixa capacidade de realização por autodeterminação e tendência a transferir responsabilidades sobre dificuldades para as lideranças.
16. Formalismo: aqui apresentado no sentido de uma aceitação tácita das normas e regras estabelecidas, de par com uma prática distorcida, apoiada em outros procedimentos programados para burlar as normas estabelecidas. Expressões como “fazer vista grossa”, “quebrar o galho”, “descobrir o mapa da mina”, são indicativos dessas práticas. Um exemplo, no serviço público brasileiro só é permitido o ingresso por concurso público, entretanto, são feitas nomeações interinas sem concurso que de tempos em tempos são efetivadas. Na realidade existe um hiato entre o direito e o fato, que caracteriza o formalismo, mas também o justifica.
17. Impunidade: quando as lideranças se resguardam sob a impunidade o sistema jurídico institucional perde credibilidade, neste ponto há uma inversão, ao invés de premiar as condutas éticas, os procedimentos aéticos são premiados com a impunidade. O que tende ao “salve-se quem puder” ou “a lei de Gérson, é preciso levar vantagem em tudo”.
18. Lealdade pessoal: a coesão social no Brasil é muito marcada por este traço cultural. O membro do grupo valoriza mais sua lealdade ao líder e aos outros membros do grupo do que, às causas, obrigações e responsabilidades perante o próprio grupo.
19. Evitar conflito: a relação entre pessoas, em situação de desigualdade de poder, tende a criar certo grau de alienação, baixa motivação e conseqüente passividade e baixa capacidade de iniciativa. Esta mesma desigualdade de poder e forte dependência pode representar uma fonte permanente de conflito que, no caso brasileiro, é tratado pelo recurso de relações pessoais de intermediação (triangulação) entre líderes e liderados buscando uma permanente evitação/ conciliação de conflitos.
20. Flexibilidade: representa uma categoria que pode ser analisada sob dois enfoques: Adaptabilidade e Criatividade.
Adaptabilidade: é uma capacidade criativa que se exercita dentro de limites pré-fixados. Este contorno restritivo é o processo que decorre em conseqüência das regras e normas do subsistema institucional, deste confronto entre formalismo e lealdade a pessoas emerge o “jeitinho” é a própria criatividade.
Criatividade: este traço traz consigo a inovação. Ocorre, fundamentalmente, em situações onde a igualdade acontece de fato: é o que acontece no carnaval, negros e brancos, ricos e pobres, poderosos e oprimidos, mas neste evento, nas escolas de samba existem destaques, a comissão de frente que sinalizam o indivíduo se sobrepondo ao grupo, construindo uma hierarquia. Mesmo na festa da igualdade ressurge a hierarquia. Não quero abolir a escravidão, quero ser senhor.
Esses traços e a lógica descrita formam a essência do que chamamos de Sistema da Cultura Brasileira cuja dinâmica tem como resultado global um estilo de ser brasileiro, uma construção nacional que as distingue de outras nações, por mais que se queira impor-lhes modelos de outros países.
No âmbito organizacional, o resultado é um ESTILO BRASILEIRO DE ADMINISTRAR.
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